Lícia mandou-me um áudio. Sua voz estava ofegante.
O silêncio, em pausas de sua fala, era desértico.
Alguns carros passavam, e arranhavam o silêncio, em espaços de palavra.
Ainda não entendo a mensagem…
Pensei que estivesse lucrando com libidinosos e insaciáveis jogadores
e torcedores de nações forâneas…
Transcrevo com observações (do audível).
É uma sensação impressionante.
Ela fez meu coração disparar!
Estou diante de uma encruzilhada, Madame.
É a mais exaustiva decisão de minha vida.
Há dois caminhos completamente opostos a seguir.
Como qualquer caminho, há opostos!
Só consigo ver direita esquerdar.
E esquerda, a me tentar.
Eu? Estou parada no mesmo lugar.
Um campo completamente plano, e dois caminhos.
Vim por uma planície, uma linha reta.
Estou em um fim de estrada.
(silêncio, respiro ofegante, um caminhão passa e buzina)
Isso quer dizer que um tanto de minha vida acabou.
(silêncio longo, passos.)
Um caminho terminou.
Preciso começar outro.
(respiro ofegante, parece que a boca encosta no sensor sonoro)
Minha intuição só diz “decida logo”.
E minha certeza é insignificante.
Estou diante de opostos!
(silêncio e a próxima palavra soa como um grito distante)
Opooooostos!
(silêncio, a voz volta a estar próxima)
Não são simplesmente opções.
São vidas opostas.
(respiros, dois.)
Diante de tamanha imensidão, estou paralizada.
Meu corpo não se move.
Não tenho nenhum resquício de certeza possível.
Estou literalmente parada no espaço, sem perspectiva alguma
de tempo futuro.
(a voz vai ficando mais ofegante.)
Não vislumbdo absolutamente nada palpável para decidir que rumo tomar.
(Suspiros profundos.
Silêncio.
Um carro passa, escuto)
Piso em um chão plano de grande extensão.
Vejo duas retas de estrada com igual horizonte visual.
(Longo silêncio. Alguns passos.)
O que sei é passado.
O que penso?
Um misto de vazio absoluto com uma
confusão mental de aparência inabalável.
(Silêncio, tosse, respiro, silêncio.)
Só vejo riscos.
Formam um triângulo.
Eu no centro.
E começo a raciocinar o devir.
(Risos. E repetições cantaroladas da palavra devir.)
Primeiro, acredito.
Lembro do passado, de todas as decisões certas que tomei.
Depois, acredito ainda mais.
E reflito sobre o processo que executei em cada uma delas.
(Um grito, distante.
Lícia afastou o microfone.
O gripo ecoa. O silêncio volta.)
E só esvaziando tudo, até mesmo o silêncio dessa encruzilhada, consigo ter certeza!
Irei escolher o que for melhor para mim.
E diante de duas opções absolutamente iguais…
com sempre…
só consigo agir…
(silêncio.)
Pois bem, Madame, sem dramas…
melhor pensar como sempre e de aqui em diante…
(silêncio.)
A V A N T E!
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1 comentário
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