Lícia costumava mandar-me poemas e fotos da situação na qual os escrevia…
Alguns deles, eu os avaliei-os-pois como do “gênero” do escarro.
São poemas soltos em papéis.
Solt(d)ados! Gerados e libert(d)ados…
São como os “pliegos sueltos”, equivalentes espanhois
da nossa literatura de cordel.
Digo, são “soltos” não exatamente pela rima e ritmo do cordel,
mas por deixados em algum lugar.
Sim, são uma espécie de cordelança desbravada em si.
Bombas de fogo, pedra, poeira e vento.
Seu olhar que o bem diga.
Sua palavra que comprove…
Não me suguem mais!
Não sou veia pra me picarem!
Fui afeto.
Sonhei discreto.
Mas não esqueci o valor da razão!
Não me suguem mais!
Não sou laranja de umbigo.
Foi escolha, e sim vivi castigo.
Abandonei a petulancia.
Mas não ignoro egocentrado inimigo.
Falo sério!
Foi decisão!
Não me suguem mais!
Não sou terreno fértil de ingenuidade.
Conheci foi muita fogueira de farça e vaidade.
Pisei firme e com propriedade.
Mas fervilhei em abismos de revolução.
Não me suguem mais!
Não sou teta materna.
Presenciei biscate de gente maldosa desvirtuando prosa.
E agi discretamente, nunca de(mente), e combati em mim precária ação.
E me dá licença… pausa inofensa: persisto em ser infratora da subversão!
Não me suguem mais!
Não vim ao mundo a passeio.
Muito menos peço favor alheio.
Colaborei sempre por meu próprio decreto.
E não abandono sem provas de traição.
Não me suguem mais!
Chega de devaneio.
De minha terra eu sempre trouxe esteio.
Montei cavalaria de corpo inteiro.
Plantei vento e ainda colho tempestade,
com luvas de veludo e com toda terra que fizer bater meu coração!
Não me suguem mais!
Não sou força de palavras.
Planto leveza para sentir sabedoria.
Cultivo coragem,
E vim ao mundo ver florescer imenso amor na multidão!
Ááááá vááááá…
Lícia D!B!
PS: A fotografia de explosão é still de cena de “Zabriskie Point”, uma fuga psicodélica ao Vale da Morte, de Michelangelo Antonioni. Daria e Karl Marx escapam para lá se encontrarem. Saem de diferentes partes dos EUA da contra-cultura. Naquele então (e ainda, provavelmente…), um país repressivo e consumista, de seres humanos sufocados pelo consumo, pelas barreiras do concreto; e de outros seres humanos conscientes erigindo protesto. Um mundo inundado pela típica incompreensão atmosférica do caos. Sinto viver algo semelhante nos trópicos, por isso respondi Lícia com a indicação do filme…
Md. C. Bécamier
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