Noite passada, Lícia contou-me suas tragédias. Deixou para revelar detalhes somente agora, quando seus impulsos mostraram que a trama dos caminhos equivocados só é percebida com o tempo.
Contou-me enfatizando sua crença na potência de seus sentimentos de eternidade. Revelou ter percebido o sentido dos obstáculos mais árduos em sua vida.
Foi deles que Lícia tirou forças para reerguer-se, depois de severas restrições por ela vividas, em momentos de intensa busca por liberdade. Foi visualizando seu caminho de floresta, rocha, mar, neve e tantas outras formas de leveza e luxuosa serenidade, que percebi ser sua vida liberta um desafio tão difícil quanto maravilhoso.
Foi de suas tragédias que ela tirou forças para seguir suas crenças e para olhar para dentro de si, sem medo de aprender e enfrentar. Surgiram delas suas plenas certezas de que voltaria ainda mais corajosa, indômita e sonhadora.
Pelo seu relato, tive a clara sensação de estar com uma energia selvagem tomando sua mente e blindando seu corpo das antigas e insistentes ilusões aprisionantes pelas quais passou, como passaram e passam inúmeras mulheres, em rançosas sociedades patriarcais.
Nesta busca, Lícia enfrentou as bifurcações e os mais precários labirintos da mente com um único antídoto: a verdade!
E com as doses de seu antídoto mais precioso, tomo as palavras deste texto para logo dedicá-las aos humanos determinados a viver suas verdadeiras grandezas.
Antes, eis uma pequena lista que elaboramos juntas. Embora ainda não conclusiva, pensamos em alguns aspectos do que mascara a verdade e trava seus resultados construtivos:
O medo.
A hipocrisia.
O egoismo.
O egocentrismo.
O excessivo e aprisionaste materialismo.
Ou seja, encontramos alguns dos venenos mentais gerados pela má intenção esquizofrênica da sociedade padronizada, no modo de vida capitalista.
Perverso em suas provocações de desejos, há um modo de vida que faz da mentira suas verdades. Hipnotiza e escraviza. Plastifica o pensamento como produto industrial, e o corpo de seus usuários!
Falo de ilusões que contaminam a natureza pura e verdadeira de qualquer ser humano.
Falo, pois, de mentiras.
Falo de viver mentiras.
Falo de viver enganos.
Falo de dissimulações estratégicas.
Falo da freak compulsão do ser humano em fingir felicidade para aparecer e aparentar, sem intenção de propagar boas motivações.
Falo de desnecessárias dissimulações que muitos seres humanos plantam na vida dos outros, por serem covardes e não vibrarem com a energia infindável do verdadeiro.
Falo de afastamentos de puras vontades, de desejos e indomáveis instintos do ser, existentes muito antes do processo de tornar-se humanidade, de todo e qualquer tempo, de toda e qualquer sociedade.
Falo dos processos que nos vão plugando em sistemas onde imagens plastificadas e mensagens padronizadas vão envolvendo a essencial natureza humana e nos tornam à imagem dos códigos certificados socialmente.
Falo de viver a ilusão de que todos deveriam ser corajosos o suficiente para enfrentar os obstáculos da vida com a verdade.
E falo de meu diálogo com Lícia para deixar bem claro:
Mentirosos e dissimulados estão, no fundo, cultivando sua covardia.
Ilusórios para si mesmos, eles tem a mentira e a dissimulação como base de suas intenções e ações.
Ou seja, não sendo, os covardes são aqueles que usam bengalas da sociedade artificial onde vivem, para seguirem suas vidas de mentira. São aqueles que fogem de sua mais simples e genuína essência por não acreditarem na imensidão que são.
E são eles, os covardes, que não sabem (ou ignoram) serem potenciais corajosos, como todo e qualquer ser humano.
Será simples entender: ao invés de acreditar tanto no poder de suas mentiras, deveriam enfrentar a eternidade da verdade e parar de desviar suas vidas da paz tão sonhada por todos.
Paz só se conquista eliminando os medos, e difundindo verdades.
A verdade é para quem precisa Ser e a todos ela ensina a conviver.
Lícia viveu suas tragédias com covardes que dissimularam as próprias vidas e afundaram muitos outros em seus mundos ilusórios.
E Lícia enfrentou todas as suas tragédias sabendo que sempre teve intenção e ação oposta às ilusões do mundo artificial, de vícios em vaidade e reputação social.
Lícia ergueu-se com todas as suas verdades, com seus tantos trechos de coragem, que em seu corpo tornaram-se esculturais cicatrizes.
No final de nossa conversa, ela pediu-me para fechar os olhos e imaginar uma raposa, animal que no Xamanismo simboliza aquele que se camufla, que se confunde com o meio. Com suas palavras suaves e precisas, ela convenceu minha mente de transformar a imperceptível e adaptável raposa em um lobo da neve. Disse que com aquela imagem eu iria, definitivamente, transmutar as ilusões em verdades necessárias para viver no mais hostil ambiente, com plenos poderes sobre as ilusões de minha própria mente. Ela pediu-me para acreditar, com ela, nesta imagem como uma forma de proteção de meu conhecimento e de minhas verdadeiras motivações.
E por ter conseguido visualizar uma transmutação tão profunda, com a presença indômita de uma personagem tão real quanto sagrada para mim, resolvi escrever este breve e enérgico relato.
Dedico esta noite de profundos diálogos e o texto aqui recitado à energia de coragem, presente em todos humanos seres que não temem viver, declarar e fazer vibrar suas verdades no mundo que acreditam e fazem existir!
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